A presença de bolivianos no
Brasil está cada vez mais comum, pode ser um sinal da globalização, onde a
movimentação de estrangeiros é mais constante, como pode ser acolhimento de
fluxo migratório da América Latina, com a livre circulação de pessoas entre países
membros do MERCOSUL.
Mas há diferença entre os que são
turistas e os que migram em busca de uma vida melhor, parte deles encontram
dificuldades jurídicas, exploração de mão de obra, discriminação entre outros.
E é assim que exibimos essa trajetória entre Bolívia e Brasil, o foco será a
cidade de São Paulo, local que se contra o maior número de bolivianos. Deixam
tudo para traz como sua família, sua cultura, seu país.
Chegando no Brasil encontram
dificuldades, desde o idioma até com a aceitação de brasileiros, são explorados
muitas vezes por estarem em situação de ilegalidade, mas procuram amenizar isso
se encontrando em alguns pontos da cidade, podem encontrar conterrâneos, ouvir
suas músicas tradicionais, comer comida típica. E assim, vão ganhando aos
poucos, respeito como outros imigrantes que também chegaram em São Paulo.
Figura
1- Bandeira da Bolívia
A Bolívia tem como nome oficial Estado
Plurinacional da Bolívia, é um país inserido no centro-oeste da América do Sul.
Faz fronteira com o Brasil ao norte e leste, Paraguai e Argentina ao sul, e
Chile e Peru ao oeste. Suas capitais mais importantes são Sucre e La Paz, é um
país que acumula grande pobreza e baixos índices sociais. Possui a segunda
maior reserva de gás natural do continente, perde somente para Venezuela.
Figura
2- Mapa da América do Sul e parte da
América Central acima
Não existe litoral na Bolívia, seu ocidente
fica localizado na Cordilheira dos Andes, onde localizamos o Nevado Sajama, que
é o monte mais elevado do país, podendo chegar a 6542 metros aproximadamente. A
parte central da Bolívia é formada por um Altiplano, lugar onde habitam a
maioria dos bolivianos. Ao leste do país as terras são mais baixas e a
vegetação é parte da Floresta Amazônica. Faz parte da Bolívia o lago Titicaca,
um importante lago navegável mais alto do mundo com 3821m acima do nível
do mar, situa-se no limite entre a Bolívia e o Peru. Curioso é que a lenda
andina dizia que nas águas do Titicaca que nasceu a civilização inca.
Alguns descendentes dos incas ainda vivem à beira do lado e sobrevivem com
parte de pescados e agricultura.
Figura
3- Bolivianos navegam no Lago
Titicaca
No
sudeste do país, localizado nos departamentos de Potosí e Oruro está o maior
deserto de sal do mundo o Salar de Uyuni é localizado a 3.650m de altitude.
Figura
4- Deserto de sal Salar de Uyuni na
Bolívia
Suas principais
cidades são a capital da Bolívia La Paz, seguida das cidades de
Sucre, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba. Oruro é a capital cultural da
Bolívia, é lá onde se realiza um dos carnavais mais originais da América
Latina. O nome Bolívia, é uma homenagem ao seu libertador, Simon Bolivar, é um
estado democrático, presidencialista, como outros países da América do Sul,
também passou por uma ditadura que durou de 1964 a 1982. Desde a aquisição de
sua independência a Bolívia passou por muitas crises internas e subversões com
seus vizinhos, como a Guerra do Pacífico ou Salitre que durou de 1879 a 1883,
com isso a Bolívia acabou perdendo sua saída para o mar. Essa guerra
originou-se com as discordâncias entre Chile e Bolívia sobre
o mando de uma parte do deserto de Atacama, uma região abastada em
recursos minerais. Foi muito explorado por empresas chilenas que tinham capital
britânico. Com o acréscimo de alíquotas sobre o monopólio mineral se
transformou em uma disputa comercial, crise diplomática e por fim, guerra.
Figura
5- Saída para o mar que a Bolívia possuía
O ano de 1903 ocorreu o Tratado de Petrópolis, que foi um acordo entre
Brasil e Bolívia, nesse tratado foi pago a Bolívia cerca se 2 milhões de libras
esterlinas, então, o Brasil toma posse
do estado do Acre, declarando que o local não era habitado por bolivianos
devido ao acesso, muitos brasileiros fugindo da seca foram para o local em
busca do látex e mais uma vez a Bolívia ao negociar esse pedaço de terra agora,
com o Brasil, perde novamente outra saída para o mar que poderia ser feita via
Bacia do Amazonas e chegar ao Oceano Atlântico.
Em 1932, dá-se origem a Guerra do Chaco, um conflito armado entre
a Bolívia e o Paraguai que se estendeu
de 1932 a 1935. A causa foi a disputa da região do Chaco
Boreal, por causa da descoberta de petróleo no sopé dos Andes. Morreram cerca
de 60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios resultando na derrota dos bolivianos
com a perda e incorporação de parte de seu território pelos paraguaios.
A revolução
camponesa foi em 1952, organizada pelo Movimento Nacionalista Revolucionário
(MNR), expandiu o direito ao voto e
gerou o método de nacionalização das minas, num tempo em que o comercio da
mineração já estava em decadência. Já no ano seguinte em 1953 surge a reforma
agrária, mas não foi o suficiente para solucionar o problema do campo.
Veja agora algumas informações da geopolítica do país:
Área: 1.098.581 km²
Capital: La Paz (capital administrativa, sede do governo)
e Sucre (constitucional, judicial)
População: 10,9 milhões (estimativa 2010)
Moeda: boliviano
Nome Oficial: Estado Plurinacional da Bolívia
Nacionalidade: boliviana
Data Nacional: 6 de agosto Dia da Independência.
Divisão administrativa: 9 departamentos
Governo: República Presidencialista
Presidente da República: Evo Morales
Brasão de armas da Bolívia
GEOGRAFIA:
Localização: região centro-oeste
da América do Sul
Cidade Principais: La Paz, Santa Cruz de la Sierra,
Cochabamba, Alto e Oruro.
Densidade Demográfica: 8,9 hab./km2
Fuso Horário: - 1h
Clima: equatorial (na região amazônica) e de montanha (região
da cordilheira dos Andes)
DADOS CULTURAIS E SOCIAIS:
Composição da População: quíchuas 30%, aimarás 25%, eurameríndios 15%, descendentes de
europeus ibéricos 15% e outros 15%.
Idioma: espanhol, aimará
e quíchua (todos oficiais).
Religião: cristãos 98,9% (católicos 88,3%, protestantes 10,6%) e
outras religiões 1,1%
IDH: 0,675 (Pnud 2012) - médio
ECONOMIA:
Produtos Agrícolas: cana-de-açúcar, soja,
castanha, café e frutas
Pecuária: bovinos, suínos, caprinos, ovinos e aves.
Mineração: gás natural, petróleo, zinco, estanho, prata
e ouro.
Indústria: alimentos, refino de petróleo e bebidas.
PIB: US$ 54,3 bilhões (estimativa 2012)
PIB per capita: US$ 5.000 (estimativa 2012)
RELAÇÕES EXTERIORES:
Comunidade Andina, Banco Mundial, FMI, Grupo do Rio, Mercosul
(membro associado), OEA, OMC, ONU.
Quando ouvimos a palavra “cultura”, já imaginamos algo
como Carnaval, festa de São João, alguns rítmos musicais como samba, mpb, rock,
dentre outros. Lembramos também de religião, festas religiosas. Algumas
vestimentas, comidas típicas. Mas definição de cultura segundo o Dicionário
Aurélio:
Ação ou
maneira de cultivar a terra ou as plantas; cultivo: a cultura das flores. /
Desenvolvimento de certas espécies microbianas: caldo de cultura. / Terreno
cultivado: a extensão das culturas. / Categoria de vegetais cultivados:
culturas forrageiras. / Arte de utilizar certas produções naturais: a cultura
do algodão. / Criação de certos animais: a cultura de abelhas. / Fig. Conjunto
dos conhecimentos adquiridos; a instrução, o saber: uma sólida cultura. /
Sociologia Conjunto das estruturas sociais, religiosas etc., das manifestações
intelectuais, artísticas etc., que caracteriza uma sociedade: a cultura inca; a
cultura helenística. / Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das
ciências. / Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito. /
Apuro, elegância: a cultura do estilo. // Cultura de massa, conjunto dos fatos
ideológicos comuns a um grupo de pessoas considerado fora das distinções de
estrutura social, e difundido em seu seio por meio de técnicas industriais.
Cultura física, desenvolvimento racional do corpo por exercícios apropriados.
De acordo com Clifford Geertz, um antropólogo estadunidense (São
Francisco, 23 de agosto de 1926 — Filadélfia, 30
de outubro de 2006) e professor emérito da Universidade de
Princeton, em Nova Jérsei, nos Estados Unidos, a definição de cultura
é constituída por “teias de significados tecidas
pelo homem”. Expressando que os homens são responsáveis por suas ações.
Então podemos dizer que para conhecer uma cultura devemos decifrar e procurar
os significados das ações praticadas como festas, ritos religiosos, danças e
não somente descrever sem conhecimento.
O conceito de cultura que eu defendo, e cuja
utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é essencialmente semiótico.
Acreditando que Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua
análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como
uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma
explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua
superfície. Todavia, essa afirmativa, uma doutrina numa cláusula, requer por si
mesma uma explicação. (Geertz, 1973.p.04)
Geertz (1973) informa que toda pessoa pode ser socializada em qualquer
outra cultura, independentemente de sua herança genética. Assim sendo, o que pode ser cultura para uns
para outros não é, isso é muito particular entre as sociedades, ele cita em seu
livro A Interpretação das Culturas, 1973 um bom exemplo das rinhas de
galo, o que pode significar uma crueldade para os defensores dos direitos de
animais pode ser cultura para o balinês.
O que a briga de galo diz, ela o faz um vocabulário
de sentimento- a excitação do risco, o desespero da derrota, o prazer do
triunfo. Entretanto, o que ela diz não é que apenas que o risco é excitante,
que a derrota é deprimente ou que o triunfo é gratificante, tautologias banais
do afeto, mas que é com essas emoções, assim exemplificadas, que a sociedade é
constituída e que os indivíduos são reunidos. Assistir as brigas de galos e
delas participar é, para o balinês, uma espécie de educação sentimental.
(Geertz, 1973.p.208)
Outro autor reconhecido por sua teoria sobre cultura é Franz Boas (Minden, 9 de
julho de 1858 — Nova Iorque, 21 de
dezembro de 1942). Trata-se de
um antropólogo teuto-americano. Boas afirmava que toda cultura tem
sua própria história, e que o modo de desenvolvimento é muito particular e essa
não pode ser ponderada a partir da história de outros tipos de cultura, chegou
a fazer uma proximidade entra a História e a Antropologia.
Malinowski ( Cracóvia, 7 de
abril de 1884 — New Haven, 16 de maio de 1942) foi considerado um dos
fundadores da antropologia social e o principal representante da escola
funcionalista. Para ele o importante é a totalidade de uma cultura, não levando
em consideração se algo aqui ou alí, mas que cada parte dessa cultura tem uma
importancia para o todo. Demonstrou que não podemos estudar certa cultura
somente com analises e a etnografia
participativa onde poderia entender a cultura “observada”.
Com a globalização o intuito era de formar somente uma cultura, uma
língua, mas com isso fez surgir discórdias entre as culturas, raças, etnias.
(..)não
há raça pura na espécie humana, mas somente entre animais que passam por um
processo de seleção artificial. Por essa razão, é equivocado dizer que um grupo
é superior a outro do ponto de vista racial. (Silva, 2005.p. 10)
Podemos entender por grupo étnico, um grupo de pessoas que
se afeiçoam-se umas com as
outras, podem ser identificadas como tal por terceiros, com base em
semelhanças culturais ou biológicas, ou as duas coisas, autênticas ou
calculadas. A definição de raça, nação e etnia deu-se com a expansão da
colonização europeia, e as fronteiras dos estados quando eram definidas. O
autor Fredrik Barth (Leipzig, 22 de dezembro de 1928), no livro Grupos Étnicos e Fronteiras, faz uma
abordagem sobre etnia, levantando a informação que os grupos não são fechados
culturalmente. Por exemplo, para que tenham uma roupa típica, músicas, ritos
haverá interação entre eles não isolamento.
Uma
atribuição categórica é uma atribuição étinica quanto classifica uma pessoa em
termos de sua identidade básica mais geral, pressumivelmente determinada por
sua origeme seu meio ambiente. Na medida em que os atores usam identidades
étinicas para categorizar a si mesmos e outros, com objetivos de interação,
eles formam grupos étinicos neste sentido organizacional. (BARTH, 1997, p. 193
e 194)
A Bolívia é composta por mais
de 62 % da população indígena, 27% mestiça, 8% de origem européia, 3% negra e
asiática. De acordo com o senso 2001, a população Quechua e Aymara na Bolívia chegou
a mais de 50% . Atualmente tem a maior população indígena da América do Sul,
podemos citar alguns deles: Aimarás, Aruaques, Avá Guarani, Paí Tavyterã, Campas,
Tiwanaku, Guaranis, Wichi.
A cultura do homem branco acabou abolindo as outras culturas da Bolívia,
fez com que fosse seguido um novo padrão de vida, influenciando a sociedade a
uma nova organização social e levando novas formas de religiões, colocando os
demais grupos étnicos como inferiores e logo gerando o preconceito que foi
adquirido logo no período colonial.
Somente no ano de 1977 a Bolívia reconhece o quéchua e o aimará línguas
oficiais, além do castelhano. Mesmo assim ficam em segundo plano, sofreram e
sofrem preconceito, já a classe dominante mesmo sendo minoria tem uma enorme
força sobre o país. A minoria branca e mais rica exerce o poder sobre a maioria
indígena, mais pobre.
A religião predominante na Bolívia é o cristianismo, com 98,9%
(católicos 88,3%, protestantes 10,6%) e outras religiões 1,1%.
Junto com
o catolicismo convivem tradições religiosas andinas, as quais resistiram ao
processo de evangelização empreendido pela Igreja Católica durante e após o
período colonial. Divindades católicas, como os santos e a Virgem Maria, são
cultuados simultaneamente com deidades andinas, assim é o caso da Pachamama
(Mãe Terra). É ela que dá os alimentos que garantem a reprodução do ciclo de
vida dos camponeses e, por esta razão é imprescindível oferecer-lhe presentes,
pois, do contrário, pode haver castigo. O ritual do qual se faz as oferendas é
denominado de ch’alla, o qual pode ser simplificado, oferecendo o Pachamama
apenas algumas gotas de bebida antes de toma-la, ou preparando-lhe uma mesa
completa, com guloseimas, feto de lhama, folhas de coca, vinho e álcool para a
aspersão. (SILVA, 2005.p.12)
Em Potosí e Oruro, há o culto de outra deidade como El Supay, ou El Tio,
este se contrapõe a Pachamama. Depois da chegada dos colonizadores essa deidade
passou a ser considerada como demônio, coisa maligna, mas no mundo andino as
entidades são julgadas iguais sendo malignas e benignas.
Dentre esses rituais estão o batismo, de iniciação e o primeiro corte de
cabelo que é feito quando a criança completa um ano de vida.
Figura
6- boliviano observa imagem de El
Tio
Figura 7- Pachamama
Agora
veremos o que acontece quando cruzam as fronteiras geográficas e culturais,
mediante o processo da migração, o qual provoca ganhos e perdas para quem vai à
outro país.
As migrações na América Latina são constantes, porém começam a se
destacarem a partir da década de 70, com a industrialização dos países, como
Brasil, Argentina, Venezuela, entre outros. Hoje a população boliviana no
Brasil é uma das maiores com cerca de 0,5% da população brasileira que são
originados da América do Sul. Atualmente o quinto maior grupo de imigrantes e
perdem apenas para Americanos, Japoneses, Paraguaios e Portugueses.
(..)É bom
lembrar porém que parte destes imigrantes antes de chegar ao Brasil já havia
passado por um processo de imigração interna, ou seja, em direção a alguns
centros urbanos mais importantes, entre eles La Paz, Cochabamba e Santa Cruz de
La Sierra. As causas desse êxodo rural são semelhantes às de outros países
latino- americanos, ou seja, a concentração da terra, falta de políticas
agrícolas que estimulem o pequeno produtor, a mecanização, a monocultura,
desastres naturais, entre outras. (SILVA, 2005 p. 15)
Os bolivianos começam a chegar ao Brasil durante a década de 1950, e em
1980 a sua maioria. E assim foi aos poucos chegando mais bolivianos. A Polícia Federal chegou a estimar cerca de
32 mil bolivianos em todo território brasileiro, já a Pastoral do imigrante
estivar que sejam em torno de 60 mil e o Ministério do Trabalho informa de 10 a
30 mil bolivianos no Brasil.
O perfil do boliviano começa a mudar a partir de 1980, já que
anteriormente só advinham bolivianos refugiados de regimes militares existentes
em seus países, mesmo o Brasil enfrentando uma ditadura em geral, as pessoas
que tinham um nível de escolaridade maior e também bolivianos com escolaridade
mais baixas vieram em busca de oportunidade de trabalho. Esses bolivianos em
sua grande parte se concentram mais na cidade de São Paulo, com um número
estimado em 80 mil bolivianos. Os bairros onde tem maior concentração de
bolivianos são: Bom Retiro, Brás, Pari, Vila Maria, Vila Guilherme e outros
mais distantes da região central como Guaianazes, São Mateus entre outros. O perfil
desses imigrantes em busca de trabalho geralmente são de jovens solteiros, na
maioria do sexo masculino apesar da presença feminina ter acrescido
respeitosamente. O nível de escolaridade da maioria é médio sendo superior aos
migrantes internos brasileiros. Há muitos profissionais liberais com nível de
escolaridade técnico e superior.
Com
relação as alianças matrimoniais, pode-se dizer que os bolivianos constituem um
grupo endogâmico, ou seja, quando os casamentos acontecem entre pessoas da
mesma nacionalidade. Entretanto, é possível constatar uniões de bolivianos com
brasileiras (os)de uma classe social mais baixa, embora em alguns casos esses
casamentos acabam não dando certo, em razão das diferenças culturais entre
eles. (SILVA, Sidney A.2005, p. 16)
Os
bolivianos em São Paulo, na sua maioria são oriundos de La Paz, Cochabamba,
Oruru, Potosí e Beni. Geralmente pegam um trem na cidade de Santa Cruz de La
Sierra que faz fronteira com o Brasil, Corumbá (MT), seguem de ônibus até a
cidade de São Paulo. São exigidos passaportes e ganham visto de 15 a 30 dias
como turistas. Há também outras formas clandestinas de entrada no país. Outras
cidades brasileiras também são procuradas pelos bolivianos que são: Corumbá
(MT), Guarajá- Mirim (RO), Foz do Iguaçú (PR), em capitais, como Campo Grande
(MS), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR).
Alguns trabalhos de sociologia demonstram que o trabalho têxtil está
constituído de maneira que estimula, em muitos casos, a escravidão. As grandes
fábricas estabelecem que um mediador, geralmente um micro empresário, repassem
uma quantidade de mercadoria além da quantidade produzida normalmente. A
sujeição feita por setores de empresas de imigrantes ilegais bolivianos é uma
dificuldade que o país enfrenta. Os casos mais notórios são os das lojas Zara,
Pernambucanas e Daslu, com investigações acabaram- se descobrindo inúmeros
casos de exploração. Na maioria das vezes, os trabalhadores são submetidos a
condições de miséria e humilhação, e por muitas vezes moram no local de
trabalho, não são pagos e são excessivamente explorados. Não há denúncia por
parte dos bolivianos porque boa parte vive na clandestinidade.
Apesar disso, grande parte dos bolivianos não considera a possibilidade
de voltar para a Bolívia. Mesmo a escravidão sendo crime, no Brasil ela é
punida de maneira bastante atenuada, muitas vezes as empresas são apenas
multadas.
A jornada
de trabalho dos costureiros é extenuante, pois eles se levantam por volta das 6
horas e, depois de um rápido desjejum, já estão prontos para iniciar mais um
dia de trabalho. Por volta de meio-dia, fazem uma pausa para o almoço, em geral
uma dieta à base de carboidratos (massas, batatas, etc.) e com pouca proteína
animal ou vegetal, uma vez que eles não têm o costume de comer feijão, como os
brasileiros. No início da noite, por volta das 18horas, há outra pausa para o
jantar, seguindo-se praticamente o mesmo cardápio do almoço. Depois dessa
pausa, eles reiniciam o trabalho para dar conta da terceira etapa do dia, por
sinal, a mais penosa, uma vez que já estão cansados. (SILVA, Sidney. 2005 p.
21)
Estar
legalizado no Brasil é, de qualquer forma, uma qualidade para aqueles que
sonham em ter a própria oficina de costura, agora sem documento não é possível
abrir uma razão comercial, uma conta no banco, ter crédito no mercado. Para os
que trabalham, todavia, o documento não é basicamente direitos garantidos, já
que seus empregadores não os registram após a sua “contratação”. Se desejarem
prosseguir trabalhando, precisarão aceitar, assim, às regras infligidas por
essa esfera do mercado de trabalho, cuja marca principal é a circulação da
mão-de-obra e a desregulamentação das inclusões de trabalho. É nessa totalidade
que são feitas algumas táticas de mobilidade.
Além dos
costureiros há outros profissionais bolivianos que trabalham como profissionais
liberais são eles médicos, dentistas, advogados, engenheiros, técnicos,
professores, dentre outros. No caso dos médicos há um grande desafio com a
revalidação de seus diplomas pelo Conselho Regional de Medicina. Enquanto não
conseguem esse reconhecimento, muitos se submetem a trabalhar na
clandestinidade recebendo salários inferiores aos profissionais brasileiros.
Há outros bolivianos que se dedicam ao comércio, atividades industriais,
editoriais, prestação de serviços e camelos como os que encontramos na Rua 25
de Março em São Paulo.
Figura 8- Boliviana em oficina de costura
Figura 9- Bolivianos com camisetas
demonstrando seu amor pela Bolívia
Figura 10- Barracas da Praça Kantuta
Localizada no bairro do Pari, em São Paulo, a feira boliviana Kantuta
aos domingos reúne cerca de 2 mil bolivianos e já é considerada atração
turística. Há poucos metros do Metrô Armênia, encontramos um grande número de
bolivianos com características indígenas, todos falam espanhol. Logo que
chegamos ao local podemos nos deparar com várias barracas, uma atrás da outra
que vendem malha de lã de lhama, potes de barros, flautas de pã e outros
produtos típicos da cultura boliviana.
A praça funciona aos domingos das 11 às 19 horas. As comidas
gastronômicas são servidas logo na entrada da feira, próximo à Rua Pedro
Vicente é servido o anticucho que é vendido pela Sra. Berta, nada mais é que o
coração do boi no espeto, e o churrasquinho acompanham batata e molho de
amendoim (maní). A empanada outra comida típica é vendida em quatro barracas da
Praça, são muito pedidas na feira e saem fornadas a todo instante, chegando ao
fim da tarde não conseguimos mais encontrar a iguaria. No café da tarde os
bolivianos costumam tomar sopa e é bem comum sentir o aroma, é servida também
como entrada para qualquer prato boliviano.
Das pessoas que visitam todo domingo a Praça Kantuta, e 90% são bolivianas
entre nativos e descendentes. Nas barracas de artesanato encontramos peças em argila,
coisas de lã de lhama, modelos de malha com desenhos, objetos musicais, vasos e
potes. Ouvimos também o toque da flauta por grupos folclóricos.
Na feira são comemoradas algumas datas festivas para os bolivianos como
a “Festa das Alacitas” em 24 de janeiro e 6 de agosto da independência
boliviana.
As barracas que mais chamam a atenção são as que exibem programas de tv
boliviana, venda de CDs, DVDs e publicações. Mais interessante é o serviço de
cabeleireiro oferecido na feira prestado em uma tenda pequena e quase sempre
cheia. A prática do futebol também passou a ser constante na feira, pelos times
de bolivianos e um time brasileiro, formados por frequentadores da feira.
Há muitos jovens na feira, que aproveitam a integração e encontro para
poderem paquerar, principalmente no fim da tarde.
A administração da feira é feita pela Associação Gastronômica Cultural e
Folclórica Boliviana “Padre Bento”, é sustentada pelos feirantes e pelos
responsáveis do transporte Bolívia- Brasil. A praça foi nomeada de Kantuta, que
nada mais é que uma flor que nasce nos Alpes com as cores da bandeira
boliviana. Essa feira é legalizada e tem cerca de 90 barracas. Os bolivianos
acham que a feira, é uma forma dos brasileiros conhecerem sua cultura e saberem
que vieram para o Brasil para trabalhar.
Na feira,
tem um espaço reservado para as crianças bolivianas que brincam com outras
crianças do bairro, uma forma de quebrar os preconceitos que elas também
carregam por serem bolivianas ou descendentes. Fátima, boliviana mãe de duas
crianças que estudam em uma CEI (Creche Pública de São Paulo) do bairro da Casa
Verde relata que seus filhos ambos do sexo masculino com idades de 4 anos e 2
anos, sofrem discriminação quando vão ao shopping por exemplo, seus filhos ao
se aproximar de uma criança brasileira frequentemente a brincadeira é
interrompida, pois os pais da outra criança a retiram do local. Já na Praça
Kantuta, essa criança brasileira ao ser levada ao local poderá se aproximar de outra
maneira, inclusive conhecendo os costumes das crianças bolivianas. Essa
discriminação geralmente não vem da própria criança e sim da família, como pai,
mãe e pessoas próximas.
Fica
localizado no bairro do Bom Retiro em São Paulo, na rua Newton Prado, é
oferecido nesse espaço cursos profissionalizantes e promove eventos culturais,
Na Rua Glicério, 225, no bairro da Liberdade, onde fica localizada e
participam de missa mensal em espanhol, celebrada sempre no último domingo do
mês às 12 horas.
Figura 11- Casamento boliviano na Igreja
Nossa Senhora da Paz, no Glicério
“No país,
o nome de alta, em glorioso esplendor e em seus altares, mais uma vez, juro.
Morrer ao invés de viver como escravos.” (Parte do refrão do Hino
Boliviano).